segunda-feira, 6 de junho de 2011

Vasto Mundo (um novo olhar)

Quanto tempo faz que nao me dedico a escrever, a deixar registrado aqui as minhas impressoes, meus desejos, sucessos e fracassos nesse espaço que criei para tanto. Felizmente, hoje encontro-me disposto a compartilhar algo de bom com todos aqueles que se interessam pelas coisas da vida, pela essencia do ser humano.
Recentemente, estive pesquisando sobre varias coisas e uma delas se refere a ampliaçao de repertorios, abrir de olhos, nao apenas olhar, mas, sobretudo, ver. E o quanto é importante que pratiquemos isso, aprender a ver. O olhar além do que é visto nos da a possibilidade se ampliarmos nosso senso estético, nossa idéia de mundo. Junto com essa ideia de ver além està inclusa as possibilidades de experimentação. Experimentar é sinônimo de aprendizagem. Quanto mais experiencias boas tivermos e proporcionarmos aos demais, melhores seremos e faremos os outros melhores também.
Sobre isto, recordando antigas lições aprendidas com a vida, nos encontros que o viver nos presenteia, busquei um conto que uma professora minha leu e me ajudou a ver muitas coisas por um outro ângulo. Esse conto me ajudou a refinar meus sentidos, contribuindo para uma melhoria intima. Compartilho com todos este conto na intenção de que ele também possa ajudar numa transformaçao e refinamento de sentimentos.

VASTO MUNDO
(Maria Valeria Resende)
Num humilde povoado da Paraíba,chamado de Farinhada, o padrinho veio buscar sua afilhada Leninha e levou-a para o Rio De Janeiro, para morar com ele.Ela voltou anos depois já moça, linda, com vestidos lindos e outra educação.Fez o maior sucesso entre as antigas amiga nas festas de São João.
Preá, um rapaz, morador do povoado, apaixonou-se á primeira vista por ela.Preá foi adotado por uma senhora quando tinha entre oito anos á treze anos de idade, vindo de uma comunidade miserável.Teve muita sorte de ser adotado, pois passava fome, sede e não tinha trabalho.Porém pouco tempo depois a velha, que já era meio surda, cega e sem juízo morreu.Preá trabalhava para os outros em troca de comida.Falava pouco, quase não ria.O povo achava que ele não batia bem do juízo.Fazia faxina, consertava casas, encanamentos, tudo sozinho.Aprendera tudo sozinho.De seus familiares, de documentos, de origem, nada se sabia.
Num belo dia, na praça reuniam-se as moças á tomar um sorvete e conversavam animadamente.Preá estava ali perto, observando a moça, mas nada falava nem fazia.Dias ficou assim.Até que um dia, perceberam sua presença e começaram a fazer gozações com ele.Ele nem ligou, apenas observava a moça.Fez-se um coral que gritava:
--Preá está apaixonado!Preá está apaixonado! Leninha olhou e achou graça, fez sinal" Vem cá, meu bem, senta aqui perto de mim".Ele foi, levado pelo vento, pelo olhar,pois só tinha olhos e o coração que batia aceleradamente.Não tinha palavras, não se expressava, apenas ria.Viu a moça, com as mãos macia no joelho dele, rindo para ele e escutou quando ela falou que se ele quisesse ela namoraria ele, mas teria que no domingo subir na ponta da torre da igreja e jogasse um beijo para ela.Balançou a cabeça e concordou.O povoado inteiro ouviu e começaram as apostas, sobe ou não sobe.O interesse foi tanto que o clássico do futebol de domingo, Sort Clube Corinthians e Sociedade Esportiva Palmeiras foi adiado.A dona do boteco começou a fazer coxinhas para vender no domingo, arrumou-se um caminhão para trazer o pessoal do sítio no domingo, o comentário era um só.Preá vai subir na torre da igreja ou não.Preá não viveu quinta, sexta, sábado.Nada viu, nada falou, nada ouviu, nem dormiu, nem acordou.Travou.Voltou ao ar no domingo com o badalar dos sinos, anunciando o acontecimento.Não vê a praça lotada de gente, de gritos, assobios e aplausos.A torcida grita, empurra, os vendedores ambulantes lá estão a botar mais lenha na fogueira dos gritos.Preá nada vê.Sobe para cima, mais para cima, mais e mais.A praça fica tensa, silenciosa, admirada.Seus dedos sangram, o suor escorre-lhe de todo corpo.Ao tocar a cruz agarra-a.A torcida gesticula apreensiva, emudece. Preá respira todo o ar do mundo e olha:lá embaixo o carro preto, a mala, a moça acenando.Só quando o carro que leva a moça desaparece ao longe, numa nuvem de poeira, é que o olhar de preá, liberto encontra o horizonte.Lá de cima passeia, vaga, vê.E Preá descobre que vasto é o mundo.

Em principio, ao lermos o conto, talvez pensemos quanta maldade a "moça da capital" fez a Préa, iludindo-o, enganando-o. Mas se tivermos um olhar mais apurado, veremos que a situaçao proposta pela jovem teve um resultado surpreendente: ajudou ao rapaz a ver algo nunca visto, a ampliar seus horizontes, a experimentar sensações antes nunca sentidas.
Esse é meu convite: que tenhamos nas coisas, nos momentos cotidianos, essas possibilidades de ver além.
Até qualquer hora! 


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