quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Caderno, caderno meu...

Escrever. Muitos já sabem desta minha paixão. Quando me sinto disposto a exercer essa atividade, quase sempre não me dou conta do que escrevo realmente. Claro que essa forma descompromissada de registrar impressões se dá nos textos onde não ha a obrigatoriedade de cumprir uma atividade como por exemplo quando é preciso resenhar uma obra ou fichar um documento.
Como jà comentei em outras oportunidades, me sinto tomado por uma vontade imensa de deixar no papel alguma coisa daquilo que sinto naquele instante. E é ai onde entra o caderno, suas muitas folhas e linhas. O desejo de escrever é tao urgente que em alguns escritos, as palavras estão quase ilegíveis, sendo possível a compreensão das idéias pelo contexto das frases. Dessa forma é comum eu mesmo me deparar com textos que escrevi e depois ficaram esquecidos nas páginas dos cadernos.
Hoje tive uma agradável surpresa ao folhear um antigo caderno e encontrar nele um manuscrito que, ao realizar essa tarefa, senti prazer, satisfação, contentamento. Trata-se de uma tarefa de uma professora de Música, sobre os sons, a musicalidade ao nosso redor. A consigna era a de apresentarmos aos demais colegas onde está a música em nosso dia a dia, onde se esconde a musicalidade que quase sempre não escutamos ou não percebemos.
Atendendo a solicitaçao da professora, resolvi criar uma história que contasse o cotidiano de um personagem. A graça estava em escutar o som das açoes que se desenrolavam no texto.

Transcrevo o texto com as rubricas para melhor entendimento. Se alguém se interessar em realizar uma tarefa de percepçao sonora, pode fazer a leitura deste texto solicitando aos ouvintes que estejam de olhos fechados e imaginem os sons das açoes, objetos, etc., ou fazer gravações de áudio dos sons e executá-los ao longo da leitura. Espero que descubram tantos sons quanto Augusto.

A DESCOBERTA

Augusto é uma dessas pessoas comuns que vivem ocupadas com tudo, o tempo todo. Desde sua infância decidiu que faria de tudo para se tornar um bom profissional, embora ainda não soubesse em que aréa atuaria.
Fora sempre um excelente aluno; nunca repetiu de ano. Seus pais não tinham do que reclamar. Começou a trabalhar cedo, não por imposição mas porque queria ter seu próprio dinheiro para fazer o que quisesse. Com desesseis anos já trabalhava num escritório imobiliário desempenhando pequenas atividades: digitava,  arquivava pastas de clientes, atendia telefonemas. Gostava do que fazia, mas sua rotina era sem graça e monótona.
Acorda às 06:00h da manhã (som de despertador), (som de bocejo). Levanta-se de um pulo e vai ao banheiro. Escova os dentes (som de escovação), toma um banho rápido (som do chuveiro). Veste numa rapidez de lince. Vai à cozinha e toma seu cafe em grandes goles com finas fatias de pão. Em minutos o que sua mãe escuta é o barulho do bater da porta da frente (som de porta batendo). Augusto já está longe dali. Em poucos minutos já esta no escritório que fica a poucas quadras de sua casa. O ir e vir dos carros era constante (som de carros, buzinas, trânsito).  Suas atividade no trabalho consumiam todo seu tempo. Nunca havia tempo para perceber muitas coisas ao seu redor. Relaxar, escutar uma boa música, nem mesmo em casa conseguia. A única música que chegava aos seus ouvidos era composta pelo som do teclado do computador (som de digitaçao), da impressora e seu reco-reco enquanto imprimia os contratos (som de impressao), das gavetas do arquivo abrindo e fechando (som), do telefone que não parava de tocar... (som de chamada de telefone).
Certo dia acordou muito cedo; ainda era madrugada. Resolveu não ir ao trtabalho; estava cansado. Sentia seu corpo doer. Ficou até mais tarde sob os lençóis, sem conseguir dormir. Tudo estava em silêncio. Foi quando no silêncio do seu quarto ouviu ruídos diferentes daqueles de sua rotina. (som do mar) Acretitava estar ouvindo o mar.
         -- Seria possível ouvir o barulho das ondas mesmo distante cinco quadras de sua casa? Pensou Augusto.
Sim, era isso mesmo o que ele estava escutando. Fechou os olhos para se concentrar um pouco mais e descobrir o que podia ouvir. Ouviu o vento assobiando ao entrar pela brecha da janela do seu quarto (som do vento assobiando); pássaros cantando despertados pela luz do novo dia (som de pássaros cantando). Sentiu-se feliz. Se pudesse olhar num espelho naquele momento veria um largo sorriso em seus lábios. Estava fascinado com os sons que agora percebia:
          -- Estes sons sempre estiveram aqui fazendo parte do meu dia a dia. Como não pude percebê-los? Será que isto acontece somente comigo?
Pensou mais um pouco e chegou à conclusão que não. Concentrou-se mais um pouco. Fechou novamente os olhos e escutou um barulho bem diferente (bater do coração). Abriu os olhos, sorriu. Pela primeira vez estava ouvindo as batidas de seu coração.
Daquela manhã em diante sua rotina mudaria.
Alguém duvida?